segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ana Bustorff no Jornal de Notícias


O Jornal de Notícias entrevistou Ana Bustorff. Na conversa que incide sobre Concerto "à la carte", monólogo de Franz Xaver Krotz, a actriz fala da emoção e da experiência de ser a Sr.ª Rasch, do desafio de estar em palco sem dizer uma palavra, da intensidade dos textos alemães.

Para ler:

fotografias

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Ana Bustorff na Rádio Renascença

  



emitido a 27/03/2009

Concerto "à la carte"

Para o seu centésimo espectáculo a CTB decidiu voltar a um texto do realismo alemão. Agora sem pretensão de mudar o Mundo através do teatro, mas afirmando, no contexto da criação artística, a posição da Companhia de não abdicar de ver e dar testemunho da Vida que nos rodeia.
Este Concerto “à la Carte” é um olhar frio, concreto, real até aos ossos, da vida vivida por cada vez mais mulheres em cada cidade. É a comédia social ao contrário. Se até aos anos setenta a tese era que o casamento seria uma invenção da burguesia e da classe dirigente para manter a fortuna e o património no seio da família e confiado aos herdeiros. Hoje, essa falsa moral ruiu e sobre a pressão do neo-liberalismo, a mulher é cada vez mais colocada entre o mercado da precariedade generalizada, com retorno à ideologia do casamento numa perspectiva de sobrevivência económica. Uma moral modernizada. Mas a realidade é cada dia mais cruel, depois dos preconceitos da dominação masculina, temos dois mercados cada vez mais competitivos: o do trabalho e o do casamento. E a mulher cada dia mais só. Por opção, dolorosa, por abandono, por razões a cada passo mais fortes e dramáticas. Há cada vez mais a Rua como espaço de espectáculo da dignidade que se quer manter e a casa, o dentro de casa, o interior, como espaço prisão que garante a Liberdade para que nos possamos despir dessa farda social. E aí, nesse “teatro” a solidão, a crueldade da vida, torna-nos fantoches de nós mesmos. Mesquinhos e miseráveis. Inúteis e indiferenciados. Somos afinal aquilo que o neo-liberalismo quis fazer de nós: números, cabeças enredadas numa única luta: a sobrevivência a qualquer custo. Concerto “à la Carte” é a vidinha duma senhora, igual a tantas que moram no apartamento ao lado, que se cruzam connosco no supermercado, a quem olhamos sem ver e que morrem sem sabermos e sem elas mesmas darem por isso.
Não contam, fazem parte da estatística para a Europa, mas são apenas números.
É de facto uma comédia social ao contrário. É um espectáculo de risco. É um espectáculo de compromisso, de postura artística e ética sobre o nosso tempo. É uma performance de actriz. De uma grande actriz que, mais uma vez escolheu o caminho mais difícil. Afinal o caminho da Companhia de Teatro de Braga.
Mas é também uma Homenagem a todas as Mulheres que não são acontecimento.

Rui Madeira
Limite do desassossego no confinamento de um corpo. Passo para a demência, solidão… humor epidérmico. Alimentar e esvaziar o corpo. Magreza de essência. Existir!?
Solange Sá


Senhora Rasch ou, a Rápida, que com uma original pontualidade ritmada pela vitalidade dos sentidos, sobrevive, assimétrica, para si mesma, pensamento após pensamento, acto após acto.
Anita ou, a alma Supersónica, seriamente capaz de implodir o reforçado palco principal do histórico Theatro Circo. É neste contexto de instintos e catástrofes naturais que surge, camuflado, o inevitável papel do assistente de encenação: presenciar a natureza irrequietamente sensitiva da mãe e a objectividade sapiente do pai.
Frederico Bustorff Madeira

a actriz

Ana Bustorff, actriz, natural do Porto, frequentou o curso de Iniciação à Prática Teatral na Companhia Seiva Trupe onde, em 1977, se estreou como actriz na peça Contos Cruéis, de Jorge de Sena.
Em 1980, com outros profissionais de teatro, funda a Cooperativa de Teatro Cena, hoje, Companhia de Teatro de Braga.
Participou em mais de 40 peças, com textos de Almeida Garret, Gil Vicente, Camilo Castelo Branco, Gunter Grass, Federico García Lorca, Alfred Musset, Robert Pinget, entre outros, e trabalhou sob a direcção de encenadores como Mário Barradas, António Fonseca, Rui Madeira, Fernando Mora Ramos, José Wallenstein, Manuel Guede Oliva, Adriano Luz, Diogo Infante, Fernanda Lapa, Cucha Carvalheiro.

A par do teatro, em 1978 estreou-se no cinema e desde então tem participado em inúmeros filmes: Adão e Eva (1995), de Joaquim Leitão; Elles (Elas, 1997), de Luís Galvão Telles; Tentação (1997), de Joaquim Leitão; Sapatos Pretos (1998), de João Canijo; Zona J (1998), de Leonel Vieira; Inferno (1999), de Joaquim Leitão; Noites (2000), de Cláudia Tomaz, que concorreu ao Festival de Veneza de 2000; no telefilme História de Um Palhaço (2000); A Bomba (2001), também de Leonel Vieira; Portugal S.A. (2004), de Ruy Guerra; Alice (2005) de Marco Martins; O Fatalista de João Botelho (2005) e O Crime do Padre Amaro de Carlos Coelho da Silva (2005).

Na sua incursão pela televisão, para além de publicidade, integrou o elenco de diversas séries e telenovelas: Polícias à Solta (1997); Médico de Família (1998); A Minha Família é uma Animação (2001); A minha Sogra é uma Bruxa (2002); Maré Alta e O Jogo (2004), Pedro e Inês e João Semana (2005); Paixões Proibidas, produção luso-brasileira da Rede Bandeirantes e RTP (2007); Equador (2008).

Nomeada para vários prémios, venceu o Globo de Ouro na categoria de Melhor Actriz de Cinema pela sua interpretação nos filmes Sapatos Pretos, Zona J e Inferno.

o encenador

Rui Madeira  é encenador, actor e director artístico da Companhia de Teatro de Braga,de  que foi co-fundador em 1980.
Participou como actor em peças de Brecht, Marivaux, Kateb Yacine, Shakespeare, B. Santareno, Garrett, Gunter Grass, Karl Valentin, Musset, Albee, Buchner, J. P. Sarrazac, Corneille, Gil Vicente, Strindberg, A. Patrício, M. Teixeira Gomes, Claudel, John Arden, Osborne, Ibsen, McEwan, Barrie Keefe, Tchekov, Gorki, Nelson Rodrigues, Alexej Schipenko, Anna Langhof, entre outros.
Encenou Musset, Tourgueniev, Gil Vicente, A. Patrício, Marivaux, Garrett, K. Valentin, Robert Pinget, Paul Claudel, Almeida Garrett, John Osborne, Ibsen, Botho Strauss, Camilo Castelo Branco, Thomas Bernhard, Ian McEwan, Bertolt Brecht, Federico Garcia Lorca, Tchekov, Alexej Schipenko, Nelson Rodrigues, entre outros.
Trabalhou como actor em cinema (Ao Longo da Estrada de Rui Ramos, longa metragem para a RTP em 1981; Vertige de Christine Laurent; Passagem ou a Meio Caminho de Jorge Silva Melo e em televisão, depois de algumas peças e séries para a RTP no início dos anos oitenta, voltou mais recentemente a participar nas telenovelas “Mistura Fina”; “Tempo de Viver”, e na série juvenil “Morangos com Açúcar”. Acaba de participar no telefilme “Superiores Interesses” na série Casos da Vida.
Entre as muitas actividades que tem desenvolvido, é actualmente professor responsável da disciplina “ O Corpo e a Vontade” no Curso de Estudos Artísticos e Culturais da Universidade Católica / Braga, membro da direcção da Cena Lusófona - Associação Portuguesa para o Intercâmbio Teatral entre os países de expressão oficial portuguesa, Presidente do Conselho de Administração da Fundação Cultural Bracara Augusta. e Administrador Executivo do Teatro Circo de Braga desde 1988.

o autor

Franz Xaver Kroetz nasceu em Munique em 1946. É autor, dramaturgo, actor e realizador.
Estudou representação em Viena e em Munique. Teve diversos empregos ocasionais (motorista de camiões, cortador de bananas, porteiro) enquanto conseguia pequenos papéis, colaborava com o teatro camponês e militava no Partido Comunista Alemão.
Em 1970 recebeu uma bolsa de dramaturgia atribuída pela editora Suhrkamp e, em Abril de 1971, estreiam em Munique as suas duas primeiras peças: “Trabalho a domicílio” e “Obstinado”, que retratavam a miséria social e lançaram uma enorme polémica que originou um forte manifestação de extrema direita e contribuiu para tornar conhecido o autor.
Concerto “à la carte” foi escrita em 1971 e encenada pela primeira vez em Portugal por Jorge Silva Melo e Luís Miguel Cintra, em 1978, com a actriz Isabel de Castro, no Teatro da Cornucópia, sob o título “Música para si”.

"É preciso estar satisfeito. A insatisfação é uma doença”

 
Ana Bustorff volta à Companhia para uma grande performance.
Um texto único para uma actriz única.
Um espectáculo construído em partitura de silêncios.
O teatro já passou e a Vida é vivida tal qual é.

Há ecos e silêncios que a Vida produz: são a música do tempo e do lugar.
Habitamos e vivemos, cada vez mais, um mundo que é só nosso. Livres e prisioneiros das nossas cabeças. Agimos. Organizamos e reorganizamos um Caos.
Reconstituímo-nos no Silêncio.
Depois de AS BACANTES e antes de PESAR, a CTB continua na pista de um “théàtre de femmes”, como lhe chamou Kroetz.

Rui Madeira

100ª Produção

Autor Franz Xaver Kroetz | Tradução Maria Adélia Silva Melo | Interpretação Ana Bustorff | Encenação Rui Madeira | Assistentes de encenação Frederico Bustorff Madeira, Solange Sá | Cenografia Carlos Sampaio | Figurinos Sílvia Alves | Desenho de luz Fred Rompante | Desenho de som Pedro Pinto | Fotografia Manuel CorreiaPaulo Nogueira | Utilização do programa n.º 56  - Paixões Cruzadas de António Macedo e António Cartaxo, emitido pela Antena 1 | M/12